sábado, 17 de abril de 2010

Sernambiquara - por Pedro Abate


Com a chegada da primavera e o consequente início da elevação da temperatura, resolvemos informar aos nossos amigos Pescadores, que já estamos na temporada de pesca esportiva do grande Pampo Sernambiguara no litoral de São Paulo. Para quem ainda não conhece este “F1” do mar, aqui vai o nosso registro!
Cientificamente classificado como Trachinotus falcatus,a área de atuação do Sernambiguara no Atlântico Ocidental, vai desde os Estados Unidos até o Sul do Brasil; Nesta vasta extensão marítima, onde sua presença costeira já foi registrada, ele recebe outros nomes, além deste, como: Arebebéu, Aribebéu, Garabebéu, Pampo arabebéu, Pampo-gigante, Pampo-verdadeiro, Sernambiquara - comedor de sernambis( moluscos bivalves ), Tambó e ainda, o sofisticado “Permit”, em inglês.
Durante alguns anos, dedicamo-nos à pesca deste valente peixe - de corpo ovalado e levemente comprimido, com escamas pequenas, focinho curto e obtuso, dorso azulado escuro, ventre prateado com mancha amarelada na parte anal, atingindo 1,20 m de comprimento e mais de 40 Kg de peso. Apesar de sua dieta principal ser os moluscos, se alimenta também de crustáceos, larvas, vermes e pequenos peixes. Difere do seu parente mais próximo o Pampo, no tamanho e no número de raios das nadadeiras dorsal e anal.
Pois bem, deixando a descrição do Sernambiguara de lado, visto que ela poderia gerar várias páginas, mas lembrando ainda, que a carne deste peixe é muito apreciada, vamos ao nosso objetivo maior: a sugestão da sua pesca na modalidade de costão.
Primeiramente, definiremos o local da nossa pescaria desembarcada, que, pela proximidade de São Paulo, recomendaremos a ilha de Santo Amaro ou melhor, a cidade do Guarujá, onde os melhores pontos são as zonas de arrebentação dos costões ricos em organismos vivos na sua superfície e o ideal, que possuam lajes extensas, de preferência com 20 à 45 graus de inclinação em relação ao nível do mar.
Em seguida, escolheremos as melhores marés para os locais citados, que serão as de pós quarto até as de ante lua, em outras palavras, do terceiro ao sexto dia de fase da lua e, uma dica importante, sempre na preamar, de preferência à matutina quando coincidir.
Independente das marés, os outros fatôres ligados ao sucesso da visita do Sernambiquara ao nosso ponto de pesca, são: água quente e limpa - pois ele depende da visão para se alimentar, ondulação ideal ( constante entre 0,4 à 0,8 m ) - pois incentiva a sua aproximação para tentar capturar mariscos, caranguejos, saquaritás e baratinhas que venham a se desprender das pedras e pressão atmosférica acima dos 1.013 Mb.
Sabendo-se o peixe, a época que é da primavera até o meio outono no sudeste, o local, a data/horário conforme a maré e, as iscas que poderão ser naturais do próprio ponto de pesca ou artificiais ( jigs ), vamos a tralha recomendada: Um material compatível para a pesca desembarcada do Sernambiguara em costão, consiste em uma vara de aproximadamente 4 metros com resistência de “casting” entre 150 a 300 gramas e um molinete ou carretilha com capacidade estimada de armazenamento de 200 metros de linha 0,60 milímetros. Quanto à linha, vale explicar que o que importa é a sua espessura para aguentar a abrasão nas pedras durante as longas brigas com esse Pampo gigante e não a sua resistência em relação a esportividade desejada.
Apesar do nosso objetivo ser o grande Sernambiguara, creio que não é novidade para a maioria dos pescadores em água salgada, que o descrito até agora serve muito bem para a pesca de outros peixes, tais como: garoupas, pampos, sargos, xaréus e etc. Por isso, não se zanguem caso a esportividade pretendida devido a tralha manuseada, fique desequilibrada em relação a outros peixes menores que vierem a fisgar. Pela própria vivência, podemos afirmar que sempre valerá a pena aguardarmos a entrada de um Sernambiguara, e só assim, sentiremos que todo nosso corpo e tralha é pouco para esse “incansável lutador”!
Com relação as dicas finais de pescaria sobre o Sernambiguara, aqui vão elas:
1- No costão, ele adora se alimentar por baixo da espuma, na faixa de 1 a 5 m de profundidade;
2- Procure manter ou trabalhar a isca junto ao paredão de mariscos, onde as ondas batam insistentemente;
3- Ele caça com a visão, sendo muito desconfiado ao examinar a sua presa, podendo até ignorá-la em alguns casos;
4- Tendo caranguejo como isca, ele abocanha e se arranca sem aviso, ficando ás vezes mal fisgado;
5- Com o “corrupto”, ele parece brincar com a isca, puxando e largando-a várias vezes antes da pegada final;
6- Na briga, de início arremete violentamente para o fundo, alternando para cima onde margeia as pedras, parecendo que não vai parar...;
7- Toda linha é pouca para capturar os grandes, seja paciente em cansa-lo e boa sorte!
Cumpre lembrar, que um dia ainda se Deus quiser, utilizando material de Fly, passarei momentos inesquecíveis da minha vida com um grande Sernambiguara no Guarujá.

Curriculum:
Maior Sernambiguara: 20,6 Kg Tempo: 50 minutos
Data: 09 / 10 / 94 Local: Costão do Guarujá
Vara: Daiwa 725CG-44 Molinete: Daiwa GS100
Linha: 190 m de Vantage 0,58mm “Leader": 15 m de Araty 0,80 mm
Chumbo: Oliva de 50 gr Girador: Paoli n.4
Anzol: Mustad 3/0 - braço curto Isca: Corrupto de praia

autor : Pedro Abate

ENTREVISTA: Ezequiel Theodoro da Silva do PESCAVENTURA( 2000 )

PV: Pedro, conte pra gente como foi a briga com essa sernambiguara de 20,6 kg. Já se passou um bocado de tempo, mas você deve se lembrar do antes, durante e depois. Dê mínimos detalhes de modo que os leitores do PESCAVENTURA possam visualizar os relances dessa inesquecível briga.

PEDRO: Lembro me como se fosse hoje e sempre, foi em uma belíssima manhã de outubro, mesmo sendo um maré vazante de ante quarto, resolvi ir e aguardar a enchente. Logo chegando no costão e olhando para o mar, já imaginei que seria um dia propício para a Sernambiguara, a ondulação estava linda, batendo do jeito que o “bicho”gosta, além da transparência da água estar um “cristal”, como dizemos. Após 3 horas de pescaria, já havia ferrado 5 sernanbiguaras na faixa de 3 a 9 kg, além dos pampos que também davam o ar da sua graça; Estava impressionante, mesmo a maré vazando e os mariscos fora da faixa da arrebentação, “elas” estavam por lá. Por volta de ½ dia, apesar da maré começar a encher, resolvemos ir embora, pois o calor estava insuportável e eu tinha medo de estragar uma sernambiguara que havia segurado para levar para casa. Chamei meu companheiro para irmos e ele insistiu: - Pedro, me sobrou duas iscas, coloquemos uma cada um e joguemos a última jogada; respondi: - Wandereley, já são ½dia, voce acha que algo pode “juntar” nessas iscas feias aqui a essa hora???.....Resultado: Não deu tempo nem de terminar de falar e muito menos de a isca chegar a encostar no paredão de mariscos, pois algo juntou e chamou legal a vara para envergar. Nunca havia visto tanta força, de início nadou uns 10 metros para a esquerda.....sómente sentia o peso, não parecia sernambiguara, não corria, parou, “parece até que pensou”...risos.....voltou ao ponto da fisgada mantendo a vara completamente envergada, e aí sim fiquei boquiaberto: O bicho abriu disparada para a direita......e o pior, parecia que não ia parar.....50.....70.....90......100 metros e não parava.....eu simplesmente não acreditava, chegava a pensar no que poderia ter tanta velocidade em colocar mais de 100 metros de linha 0,60 dentro da água.....eu dizia para mim mesmo, isso não pode ser uma Sernanbiguara. Lá pelos 150 metros de linha descarregados ( carretel no “talo”) e o interessante, a linha só entrava dentro da água, depois de uns 50 metros, o que me levava a imaginar que o peixe estava brigando na flor da água, o bicho resolveu parar.....sinceramente comigo mesmo, eu não acreditava que a natureza estava me dando a chance de ver o peixe que havia feito aquilo.....comecei no processo de recolhimento.....e sempre com o medo da recuperação do peixe......minha mãe, parecia que não tinha fim.....recolher abaixando a vara e ergue-la lentamente para arrastar aquele peso na água. No entanto, minha tranquilidade havia durado pouco, qdo o peixe estava quase uns 20 metros de mim, lá se foi ele.....e o impressionante, com o mesmo vigor inicial....só que agora, ele mergulhava para o fundo.....e lá se ia linha.....foram mais uns 100 metros com a maior facilidade....pensei e pensei: este bicho não cansou?......e mais uma vez ele parou como que por encanto, .....e lá ia eu recomeçar o trabalho de recolhimento, só que com uma diferença; “Eu não estava mais aguentando segurar uma vara “embodocada”.....minhas costas doiam....meu braço estava perdendo as forças”.....Mas a vontade de ver o peixe era maior, ..........e recolhi o qto pude e sempre com medo, pois a linha qdo entrava no molinete, se mostrava toda danificada......puro “farrapo”.....abri um pouco a fricção, pois sabia que já não tinha uma bitola 0,60, e sim talvez uma 0,30 mm....e desta Segunda vez, consegui ver o prateado do “danado”.....e ria sózinho: “Meu DEUS....é uma Sernanbiguara....e enorme”.....Mesmo assim, ela ainda deu umas 5 corridas pequenas de 50 metros.....não forcei, porque temia as pedras e sempre deixava ela correr para fora......pois queria ela aqui só qdo estivesse cansada. Após 50 minutos, consegui traze-la até as pedras e até me doeu ver o bicho praticamente morto pelo cansaço. Com a ajuda do meu companheiro Wanderley, tiramos a da água e ficamos “boquiabertos”com o tamanho da mesma!!!!.....Digo a voces, que eu nem conseguia parar de pé, tal era o meu cansaço.....parecia que eu havia morrido junto com ela....nem se eu quisesse devolve-la para o Mar, conseguiria....ela havia morrido pelo cansaço!....Agradeço a Mãe Natureza por ter me dado esta chance.....

PV: Apaixonado que é pelo peixe, você deve fazer várias pescarias durante o ano. Pois bem, depois de 1994, você pegou outras, também grandes ? Conte pra gente onde e quando.

PEDRO: Depois desta, peguei outras, mas não desse porte....sempre na faixa de 3 a 15 kg....onde as mais frequentes são as de 8 kg.....e digo: qdo elas tem de 3 a 9 kg, a gente brinca com elas.....qdo elas já passam dos 10, 12 kg, são elas que brincam com a gente.....basta um costão cheio de mariscos.....da primavera ao meio do outono.....procure-as na espuma .....elas estarão lá para brincar....risos.......Do porte desta de 20 kg, ferrei uma maior em março.......acredito que ela poderia ultrapassar os 25 kg, pois briguei com ela por uns 30 minutos e ela não dava a mínima para a minha tralha......na terceira ou quarta , ela conseguiu levar toda a linha....e não me deu mais chances de recolhimento....só nadou para o lado....até se encostar nas pedras.....aí.....tchau.......linha se rompeu.....

PV: Em função da poluição dos nossos costões em decorrência de diferentes tipos de poluição, você acha que vem diminuindo a quantidade de sernambiguaras ? Aqueles pontos em que você pesca ainda são os mesmos ?

PEDRO: Acredito que as Sernambiguaras nunca diminuirão, pelos seguintes motivos: Não malha em redes; Não tem valor comercial, apesar de possuir uma excelente carne; Não é pescada esportivamente por muitos pescadores, sómente pouquíssimos a conhecem e procuram e mais, por ser comum encontrarmos exemplares por volta de 10 kg, sempre soltamos os abaixo dos 5 kg. No entanto, uma coisa é clara, os ambientes propícios as Sernambiguaras são ciclícos ou seja, no estado de São Paulo próximo a capital, os costões estão com a sua vida reduzidíssima em organismos vivos......praticamente estamos sem mariscos em nossos paredões....quer por poluição, quer pelo extrativismo......atualmente, minha pescaria preferida esta no aguardo dos mariscos crescerem.....risos.....ou de alguém que nos dê informações de onde podemos encontrar as características desejadas de relevo...e o importante....com muitos mariscos, saquaritás, ouriços, caranguejos e baratinhas do mar nas pedras....que são o alimento predileto “dela”.

PV: Pelo teor do seu relato, você é uma apaixonado pelo peixe, tendo estudado os seus hábitos e costumes. Quais as épocas mais propícias do ano para se aventurar atrás desses bitelos ?

PEDRO: A Sernambiguara adora água quente, sendo assim, os meses de setembro a abril são os mais propícios em nosso estado de são Paulo; Já para os demais estados ao norte, a sua frequência se dá o ano inteiro. Mas cumpre lembrar, que a grosso modo, a sua pesca pode ser exercida o ano inteiro!

PV: Fique à vontade para acrescentar aquilo que quiser no final desta reportagem-entrevista. PESCAVENTURA lhe agradece do coração as respostas.

PEDRO: Gostaria de resaltar que a Sernambiguara é um dos peixes mais valentes e quase incansáveis em suas lutas, que podemos ter a nossa disposição; Muitíssimo valorizado esportivamente pelos Americanos os quais, lhe dão o nome de “Permit”.

Entrevista : Pescaventura
Pedro Abate
Pedro lembro desta sua captura, nesta época foi o maior comentario, pescava muito tb, lembro ate hj que perdi um peixe no costão do Maluf que levou a linha todinha do meu super Paoly, foi inesquecivel!!!! Acredito que foi uma sernabiquara, pois estava um senhor ao meu lado dizendo isto é um pampo gigante!!!
Valeu amigo pela materia.

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